ONGs e nações que apoiam o fim dos combustíveis fósseis estão revoltadas pelas pressões impostas pela Opep na COP28

Haitham Al Ghais, secretário-geral do grupo, enfatizou a posição do grupo contra o compromisso climático, que prevê o fim da utilização de combustíveis que causam o aquecimento global. Durante a conferência, o Brasil foi convidado a se juntar à Opep+.

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Após carta enviada na quarta-feira (6) e vista pela Reuters nesta sexta-feira (8), Haitham Al Ghais, secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), pediu aos membros da Opep+ que rejeitem quaisquer propostas em negociação na cúpula do clima da ONU, COP28, que visam os combustíveis fósseis em vez das emissões de carbono.

“Precisamos de abordagens realistas para combater as emissões. Aquele que permite o crescimento econômico, ajuda a erradicar a pobreza e ao mesmo tempo aumenta a resiliência”, disse Haitham Al Ghais.

Devido às pressões impostas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), as conversas sobre o acordo da Conferência do Clima da ONU em Dubai (COP28) continuaram no sábado (9). Países como a França e a Espanha ficaram furiosos com o texto, que incita o secretário-geral da entidade a impedir que os países-membros bloquearem qualquer avanço no fim dos combustíveis fósseis, tema das discussões no evento.
A COP28 examina os resultados da luta contra a mudança climática desde an assinatura do Acordo de Paris em 2015. O objetivo do tratado era limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius e, se possível, a 1,5 graus Celsius em relação aos níveis da era pré-industrial. A maioria dos cientistas concorda que, para alcançar esse objetivo mais ambicioso, é necessário que o mundo abandone imediatamente os combustíveis fósseis, que são responsáveis por mais de 75% das emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global.

 

RESPOSTAS
O texto de Al Ghais foi criticado por Wopke Hoekstra, o comissário climático da UE. Como relatado pela agência Reuters, ele afirmou: “Por muitos, inclusive por mim, isso foi visto como fora de sintonia, como inútil, como não em sintonia com a posição do mundo em termos da situação muito dramática do nosso clima”, disse ele, como relata a agência Reuters.

A ministra do Meio Ambiente da França, Agnès Pannier-Runacher, expressou seu descontentamento: “Eu estou estupefata com essas declarações da Opep. E estou com raiva. A posição da Opep coloca em risco os países mais vulneráveis e as populações mais pobres, que são as primeiras vítimas dessa situação. Eu conto que a presidência da COP não se deixará impressionar por essas declarações”, disse.
Ao mesmo tempo, com a realização de uma Marcha Global pela Justiça Climática, as ONGs ambientalistas, que monitoram as conversas e exigem ações concretas contra as mudanças climáticas, devem aumentar a pressão sobre os governantes.

Peri Dias, representante da 350.org para a América Latina, se diz frustrado com a reviravolta do caso: “A carta traz muita decepção e mostra que a Opep está ativamente tentando acabar com as negociações do clima. Ela mostra que a gente precisa evitar que os lobistas estejam nas conferências do clima e que a mobilização da sociedade é mais forte do que a mobilização dos lobistas“, apontou Dias.

Na sexta, foi publicado um novo rascunho da declaração final da COP28, que tem 27 páginas e oferece várias opções para lidar com o petróleo, o gás e o carvão. O tópico mais controverso na declaração final que os ministros devem apresentar na próxima terça-feira (12) é se eles devem “abandonar” ou “reduzir” o uso dessas fontes de energia. Além disso, a opção de simplesmente não mencionar o tema no documento também está em jogo.
“Nada coloca a prosperidade e o futuro de todas as pessoas na Terra, incluindo todos os cidadãos dos países da Opep, em maior risco do que os combustíveis fósseis”, disse a enviada climática das Ilhas Marshall, Tina Stege.
Opep+ e o Brasil

O Brasil participou das negociações com o objetivo de chegar a um consenso sobre a saída dos fósseis, mas também anunciou seu desejo de se unir à Opep+ como membro observador. A declaração foi feita durante a COP28.
Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Venezuela, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Nigéria, Gabão, Angola, Guiné Equatorial, Congo, Rússia, México, Azerbaijão, Bahrein, Brunei, Cazaquistão, Malásia, Omã, Sudão e Sudão do Sul são os membros da associação petroleira.

A sigla “Opep+” inclui também os “países aliados”. Esses países não fazem parte da organização, mas cooperam em políticas internacionais relacionadas ao comércio de petróleo e mediação entre membros e não membros.
No que diz respeito à concentração de CO2 na atmosfera, os combustíveis fósseis desempenharam um papel importante no desenvolvimento das nações ricas. Com significativas reservas de hidrocarbonetos, eles também contribuíram para o crescimento de várias nações pobres e emergentes nas últimas décadas; por isso, vários deles estão preocupados com a eliminação dos fósseis.

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