Governo Javier Milei: O que esperar do projeto de importação de gás da Argentina

Milei, alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fez um discurso hostil ao atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a campanha eleitoral

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Problemas surgem com a vitória de Javier Milei na eleição presidencial argentina sobre as conexões entre Brasil e Argentina e os planos de integração energética entre os dois principais países econômicos da América do Sul, principalmente em relação ao gás natural.
As declarações de Javier Milei durante a campanha eleitoral, expressando oposição ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e ao candidato governista Sergio Massa, são indicativos de suas preferências políticas e ideológicas. O alinhamento declarado com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o discurso hostil em relação a Lula podem refletir uma posição mais próxima das políticas e visões associadas ao governo Bolsonaro.

A participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na expansão do segundo trecho do gasoduto Nestor Kirchner, na Argentina, tem sido um tópico de discussão em reuniões diplomáticas entre os presidentes Alberto Fernández, da Argentina, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, ao longo deste ano.
Os empresários brasileiros estão ansiosos com a possibilidade de importação de gás competitivo para a indústria do Brasil devido à possibilidade de expansão e conexão do gasoduto Nestor Kirchner na Argentina com o gás de Vaca Muerta.
Durante sua campanha na Argentina, Milei fez muitas críticas ao presidente brasileiro, chamando-o de corrupto e de um socialista autoritário. Além disso, disse que não faria um acordo com o petista. As declarações de Milei causaram polêmica e debates públicos.
Milei afirmou que defende a liberdade, a paz e a democracia e se opôs a qualquer negócio com a China ou qualquer outro país comunista. Em uma entrevista, ele disse que os comunistas e os chineses não concordam com esses princípios e citou Putin e Lula como exemplos.
Por outro lado, Milei tem usado um discurso mais moderado nas últimas semanas. Ele demonstrou sua crença na abertura do comércio internacional e afirmou que as relações comerciais entre o setor privado do Brasil e a Argentina continuarão, apesar de sua crença de que o Estado não deve interferir nas relações internacionais.
“Diante dessas mentiras que dizem que eu sinalizo que não tem que comercializar com a China, com o Brasil, eu digo que é falso. Mas é uma questão dos privados, o Estado não tem que ficar se metendo, porque cada vez que o Estado se mete, gera corrupção e isso gera queda do bem-estar dos argentinos”, disse.

Integração para o setor de gás entre Brasil e Argentina
Julio Bitelli, o embaixador brasileiro em Buenos Aires, informou à CNN que fontes próximas ao novo presidente argentino confirmaram o desejo de continuar a iniciativa de integração no mercado de gás com o Brasil após a vitória de Milei. Essa decisão marca um novo ponto no relacionamento entre as duas nações.
“Discuti esse tema com gente ligada ao Milei e óbvio que até, em função da visão de mundo que tem o presidente eleito, que é de uma eficiência econômica se sobrepondo a outros aspectos, interessa à Argentina que esse gás possa ir ao Brasil”, disse o embaixador brasileiro à CNN Brasil.
Milei terá dificuldade em formar alianças políticas no Congresso na Argentina, pois seu partido, Liberdade Avança, é minoria tanto no Senado quanto na Câmara. Na nova composição do Congresso, o grupo tem 39 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores.

Javier Milei enfrenta um desafio político na Argentina

As opiniões desfavoráveis de Eduardo Rodríguez Chirillo, assessor de energia de Javier Milei, ao plano de exportação de gás para o Brasil através do gasoduto, destacam a diversidade de perspectivas e debates em torno da integração energética entre Brasil e Argentina.
Chirillo afirma que o setor privado é responsável pela construção e financiamento da infraestrutura de exportação. Além disso, ele sustentou que exportar o gás de Vaca Muerta por meio de Gás natural liquefeito (GNL) seria mais vantajoso para a Argentina porque, devido à natureza sazonal do gás argentino, traria mais flexibilidade e permitiria que as empresas pudessem explorar mercados além do Brasil.
“É arriscado dizer que o Brasil vai comprar de nós todo o gás que precisa, quando terá sete terminais de GNL para trazer gás e que a Bolívia vai permitir que nós passemos tranquilamente como inquilinos para podermos vender ao Brasil”, disse.

A integração de infraestrutura entre Brasil e Argentina enfrenta problemas

A avaliação de Pedro Silva Barros, coordenador do projeto “Integração Regional: o Brasil e a América do Sul” do Ipea, destaca a complexidade e a incerteza associadas às mudanças políticas e seu impacto na integração energética entre Brasil e Argentina. A afirmação de que é prematuro afirmar qualquer impacto positivo ou negativo é uma abordagem cautelosa e comum em momentos de transição política.
O especialista Barros é cético sobre a rapidez com que um projeto de integração no mercado de gás natural entre os dois países pode se concretizar. Um plano conjunto desse tipo, apesar das bases estabelecidas pelos governos de Lula e Alberto Fernández, requer decisões de longo prazo que precisam ser adotadas em um ambiente favorável.
Primeiro, ele enfatiza a necessidade de identificar o perfil de gestão de Milei. Há espaço para o desenvolvimento da integração energética, embora o presidente eleito da Argentina tenha se afastado de uma cooperação com o governo brasileiro liderado por Lula.

“Claro que um projeto de integração desse tipo é muito facilitado quando há um entendimento mais amplo e um diálogo fluido entre governos, mas essas são questões mais profundas que um governo. Temos uma pauta econômica importante com a Argentina, uma relação comercial diversificada, uma fronteira extensa e seguiremos sendo vizinhos com muitas complementaridades. É possível ter uma agenda positiva em algumas questões pontuais, projetos específicos como o do gasoduto”, disse Barros.

A observação de Barros, de que a responsabilidade de decisão agora está com o governo argentino, destaca a natureza bilateral e a necessidade de cooperação entre os dois países para avançar em projetos de integração.

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